Cinemas tropicais
Afonso Loureiro
Os cinemas ao ar livre devem ser uma das mais importantes marcas na paisagem urbana angolana. Representam a vida que é recordada com saudade por quem cá viveu. São locais abertos, onde se aprecia não só o filme, mas também o clima angolano que permite o devaneio de ter cinemas ao ar livre a funcionar o ano inteiro.
Ao entrar num destes espaços percebemos que havia toda uma maneira de encarar a vida específica desta terra. Em vez de se fechar as pessoas numa sala escura, deixa-se que sintam a vastidão de Angola rodear o filme sem perturbar. Os cheiros e os sons da terra misturam-se com a luz e o ruído do filme numa combinação que já não se consegue mais.
Hoje em dia estão quase todos abandonados. Restam os ecrãs em betão e as plateias, por vezes despidas de cadeiras. Em Luanda resistem pelo menos três: o famoso Miramar, o Império, que agora se chama Atlântico e um escondido no quartel da Força Aérea, junto da cabeceira do aeroporto onde se amontoam os aviões velhos.
Cinema Miramar
Quando visito um destes marcos sou invadido por uma onda nostálgica sem saber bem porquê. Talvez os veja como uma espécie de despedida e imagine um fechar de janela como nos filmes de Jacques Tati ou, se calhar, sinto que são o que resta da identidade de um povo e de uma cultura que se extinguiu. Sei que ficarão registados na memória que levarei de Angola.
Caro Afonso,
Do outro lado havia um bar que funcionava como apoio, no combate à sede. Refiro-me ao Miramar. Neste cinema tinha-se o privilégio de apreciar a baía de Luanda e o seu porto, por entre cenas de maior ou menor “suspense” que o filme tivesse para nos oferecer. Já viu o que estão a perder os calcinhas? Pela certa que preferem ficar em casa, no ar condicionado, a passar cinema em DVD. É um desperdício!
E depois havia ainda o São Paulo, o Império na Vila Alice, o Avis em Alvalade, o Tivoli na Samba. Isto para só falar das grandes salas ao ar livre. Que Deus as tenha!
Um abraço.
A Olímpia, do Rede Furada, é a manager do Cine Cajueiro, que funciona ao ar livre em Santo André, uma vilazinha minúscula no litoral sul da Bahia. É um projeto socio-cultural conduzido com um carinho enorme. Quem quiser, é só chegar e puxar uma cadeira. Me lembrei dela, ao ler o seu post. Um telão dessa categoria, lá, ia fazer o maior sucesso.
Infelizmente perderam-se valores culturais únicos com estes cinemas ao ar livre. Luanda tinha e tem condições climáticas ideais para usufruir deste tipo de casa de espetáculo. Porém hoje em dia com o barulho dos geradores e os cheiros dos lixos espalhados pela cidade não há mais condições. Como estes cinemas eram também, em certa medida, uma referência do estilo de vida do período colonial, passaram à história. Ainda por cima os angolanos querem imitar ao máximo os modelos de comportamento da sociedade de consumo europeia e norte americana e os centros comerciais é que estão a dar. E assim irá desaparecer algo que praticamente só havia em Angola.Mas como também eram o símbolo do colonialismo, interrogo-me so não existirão anti-corpos contra eles (os cinemas ao ar livre ou esplanadas), por parte dos actuais dirigentes do país.
Uma tela de betão deste tamanho talvez ficasse um pouco desenquadrada em Santo André, mas concordo que teria um sabor especial ver cinema ao ar livre nestas condições.
Nem sempre os projetos culturais têm viabilidade comercial. Talvez não exista público disposto a pagar (caro) para ver cinema na rua, com baixa qualidade de imagem e de som, no meio do barulho e cheiro de lixo. O público pagante é exigente e pode frequentar o Bellas ou ir a Lisboa e ao Rio de Janeiro.
Eu estava pensando no público que não tem dinheiro para ir ao cinema, e nas oportunidades perdidas por falta de visão e sentido de cidadania.
Os cinemas ao ar livre angolanos já perderam a sua mística há muito…
Em Luanda eram quase todos os cinemas ao ar Livre.
Do Miramar é dos que a memória está mais marcada e com a foto do Mirarmar fiquei desarmado. Já o tinha visto pelo Google earth, mas assim é como ver a porta de nossa casa, pertence-nos.
Lindo, lindo, lindo, lindo!!!
Que saudades eu tenho de Luanda e dos cinemas ao ar livre!…
Quem nunca lá esteve nunca poderá entender a nostalgia que nós sentimos. Eram únicos. Espero que Angola possa voltar a ser aquilo que era.