Partir o lápis
Afonso Loureiro
As expressões idiomáticas contêm conceitos muito mais amplos que a mera soma dos significados das palavras que as compõem. Abrem janelas para um pensamento colectivo que pode ser específico de um determinado povo e que, por vezes, é intraduzível para os estranhos, mesmo que falem a mesma língua.
Gosto de sotaques e de diferenças e sinto-me enriquecer quando descortino um bocadinho mais da cultura que me rodeia. Tenho tido a sorte de estar rodeado de pessoas interessantes nesta aventura em Angola que não se poupam a esforços por me mostrar o que é ser angolano.
Recentemente falávamos de escola e analfabetismo e chegámos à conclusão que há muita gente que tem uma excelente caligrafia e nem sequer dá muitos pontapés na ortografia, mas que não compreende o que lê ou o que escreve.
Escola
Para alguns há desculpa, porque abandonaram a escola cedo demais ou, como se diz por aqui, partiram o lápis cedo. Partir o lápis é uma expressão idiomática deliciosa, que nos remete para um corte radical e violento com a escola, um virar costas premeditado e não uma desistência ditada pelas incertezas da vida.
Fasquia baixa
Para outros, que seguiram o seu percurso escolar com maior ou menor facilidade, já não encontramos justificação para a falta de saber. No meio de muitas candidaturas de emprego que recebemos tem havido alguns estudantes universitários que mal sabem preencher um formulário onde se lhes pede o nome e o telefone. O analfabetismo funcional ainda é mais perigoso porque está disfarçado.
Sim, é verdade. Será talvez o maior problema da sociedade Angolana, o facto de quem sai da escola nem o nome consegue escrever direito.
Aliás, basta ler uma frase, ou 2, de quem tem mais de 50 anos, e só com a 4ª classe de então, e comparar com a de um destes milhares de (in)felizes universitários, para compreender a dificuldade que a juventude tem em transmitir um simples recado, por mais banal que seja.
Agora, a caligrafia de qualquer Africano, faz-nos corar de vergonha…lol
Pelo amor de Deus Sr. Miguel não exage, sempre estudei em Lda, em escolas públicas, tendo interrompido a patir do 10º ano ,altura em que fui pra Coimbra, meio académico por excelência..onde deparei-me com alguns casos graves de escrita e oralidade que jamais contei encontrar, no sítio onde pensava que se falaria o melhor português jamais visto.
consegui ser durante o ensino secundário a melhor aluna mesmo a Português (19 no Exame Nacional)supostamente não deveria ter entrado para o 10º directamente por causa das “deficiências” trazidas de cá!pois bem! fiz o teste exigido e passei.frequento neste momento o curso de Direito aqui em Lda (Universidade Agostinho Neto, ensino público,la está)tive de me vir embora porque assim como faz-vos confusão a “confusão” da sociedade angolana,não me adaptei ao vosso espírito fechado, meio interesseiro até entre familia..e perdoem-me a franqueza até um pouco mesquinho, por da cá aquela palha..é uma balbúrdia,mas são vocês!É a vossa essência..há que respeitar.
sou uma das muitas felizes universitárias que vai com toda força e toda alma dar o seu melhor por esta terra que me viu nascer e crescer..ngolê xyami!