Peculato
Afonso Loureiro
Uma das conclusões mais importantes saídas do último congresso do MPLA foi resumida no discurso de encerramento proferido pelo seu presidente, que decretou “Tolerância Zero à corrupção”. O discurso veio na altura certa ao coincidir com os escândalos das transferências ilícitas de muitos milhões de dólares directamente do Banco Nacional de Angola para contas privadas no estrangeiro.
Desde então todos repetem as palavras do presidente e ficam chocados com a corrupção generalizada no país, como se só agora tivessem descoberto o fenómeno. O mau uso dos dinheiros públicos, os desvios, as luvas continuam a fazer parte do quotidiano, mas com o estigma de se tratar de uma desobediência directa às ordens do Zé Dú.
Combater a corrupção! Combater a corrupção!
No jornal e na rádio anunciam-se novas detenções e novos suspeitos no caso do BNA todas as semanas. As largas dezenas de mandados de captura e prisões efectivas que se dizem dever-se às operações fraudulentas do final do ano passado fazem crer que a fatia de cada um era bem pequena.
Paralelamente ao caso mais mediático, vão sendo publicados mandados de captura ligados a processos de combate à corrupção na administração pública. São às meias-dúzias todos os dias, com nomes, fotografias, nomes dos cônjuges, cargos ocupados e crimes de que são acusados. Antes das orientações de combate à corrupção vindas do congresso estes editais eram raríssimos.
A maioria dos mandados são devidos a crimes de peculato e todos os acusados são a arraia mais miúda que se possa imaginar. Condutores, arquivistas e auxiliares em vários serviços são os mais frequentes e o acusado mais importante que vi até agora ocupa o modesto cargo de chefe de secção. Ainda não apareceu nenhum dos tubarões que, de uma penada só, desviam mais dinheiro que estes todos juntos. Quando o mar bate na rocha, quem se lixa é o mexilhão.
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