Os dólares acabaram
Afonso Loureiro
Em certas zonas da cidade, homens a acenar maços de notas e cartões telefónicos ou mulheres sentadas com grandes malas de mão ao colo a esfregar as pontas dos dedos a quem passa são parte da paisagem. Os kínguilas são a face mais visível da economia paralela de Luanda.
Na esquina
Sobrevivem graças à instabilidade da moeda oficial, praticando câmbios impossíveis para as agências bancárias. Com a chegada da crise a Angola, o Banco Nacional decretou medidas cambiais muito restritivas que reduziram muito a liquidez do mercado. Com o aumento obrigatório das reservas mínimas, redução dos montantes diários de movimentação de moeda estrangeira permitidos e a alteração da taxa cambial oficial, os bancos ficaram sem dólares num instante. O câmbio dos kínguilas também disparou, tal era a sede de dólares.
Até há uns meses, todos acenavam grandes maços de notas de kwanza nas esquinas, mas agora ninguém tem dólares para comprar kwanzas. Os dólares desapareceram do mercado. O número de kínguilas foi diminuíndo porque o negócio deixou de ser rentável para ter tanta gente a disputar as pequenas margens.
Agora, os poucos que se vêem acenam meia-dúzia de notas de dólar, porque é a única moeda que tem saída. Angola está sem dólares até no mercado negro.
E é bem provável que até Maio/Junho a situação se agrave consideravelmente, segundo corre nos ‘bastidores’…
O mesmo é valido para € nas casas de cambio oficiais, começam a ser mais dificeis de encontrar.
Mas há dias vi umas kinguilas a trocarem € na rua.
Deve ser para contrabalançar a falta de dolares…
Aqui em Portugal os euros também faltam, pelo menos nas carteiras de muitos Portugueses.