Despistes
Afonso Loureiro
Nas estradas angolanas um camião voltado numa curva é visão frequente, infelizmente. Longas distâncias e grandes rectas propiciam a que os condutores andem mais depressa que o recomendado e façam poucas pausas. Uma distração ou excesso de confiança podem fazer com que saiam da estrada.
No fim da curva
Nas pontes mais estreitas, as guardas partidas quase sempre assinalam o local onde um contentor caiu ao rio. Nestes casos, o acidente acontece quase sempre porque dois camiões tentaram cruzar-se no estreitamento, cumprindo o código de estrada oficioso.
Ultrapassagem mal medida
Nas estradas principais que já estão arranjadas, a maioria dos acidentes deve-se ao excesso de velocidade. Se o asfalto está em bom estado, é quase certo que em cada curva se encontram carros virados ou queimados e cargas espalhadas. Ao fim de alguns dias sobram apenas as carcaças que vão enferrujar lentamente nos anos seguintes.
Mal travado
Para além do surreal acidente testemunhado em primeira mão na estrada para Malanje, deparei-me com outro igualmente bizarro a caminho do Huambo.
Numa subida íngreme a muitos quilómetros de qualquer povoação, uma pequena multidão acotovelava-se na berma da estrada e espreitava para o fundo de um barranco. Lá em baixo, no meio da clareira acabada de abrir, um camião carregado de colchões estava de pernas para o ar.
Todos os que espreitavam lá para baixo eram passageiros. O condutor tinha parado para urinar, mas ninguém reparou que o camião tinha ficado mal travado até ser tarde demais. Desceu até à berma e depois rebolou até ao fundo do talude. Um dos passageiros que me contava a história riu-se e comentou “a gente só faz acidentes”. Tal como no outro acidente, neste também parece que ninguém se magoou.
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