Contagem decrescente
Afonso Loureiro
É um sentimento estranho, este de saber que os dias em Angola se aproximam do fim e aperceber-me que afinal já são dois anos que passo em terra alheia. Em retrospectiva, não são a enormidade que pareciam antes da partida, mas talvez essa noção seja distorcida pela antecipação de voltar a casa. As saudades são mais que muitas e há projectos para pegar onde foram deixados e outros a declarar irremediavelmente perdidos.
Aos poucos, os muitos meses longe de casa tornaram-se semanas e agora, até mesmo essas, têm de ser contadas em dias para que o número não pareça ridículo. E depois há que retomar as amizades deixadas em suspenso ou mantidas no limbo dos e-mails e telefonemas necessariamente curtos. Há que retomar os ritmos da terra que me viu nascer, muito diferentes desta que me fez crescer.
Luanda
Angola não se explica, sente-se e é talvez por isso que não se consegue traçar fronteiras claras entre o que amamos e detestamos nela. Todas as arrelias e dificuldades foram compensadas largamente pelos amigos que fiz e que procurarei quando cá voltar ou que receberei com gosto na altura em que visitarem Portugal.
Quedas de Calandula
Como fruto inesperado desta aventura, surgiu um livro que só poderá ser dado como concluído no dia da partida. Não porque se acabe o assunto, mas porque se tem de lhe impôr limites, neste caso temporais. As revisões e ajustes finais serão uma boa maneira de me despedir da terra onde vivi nos últimos dois anos, recordando os episódios que presenciei e o bocadinho do país que conheci.
E já passaram 2 anos! Se bem me lembro, o objectivo inicial era postar uma experiencia por dia. Em números redondos terás à volta de 730 experiências para contar, sobre Angola.
No meu caso, apegada ao mundo, talvez o meu destino seja outro que não o nosso país. E também já faltou mais para a minha contagem decrescente. 🙂
Abraço e boa sorte para o regresso em breve!
O Aerograma começou sem objectivos bem definidos, mas depressa me apercebi que um artigo longo com temas variados a cada meia-dúzia de dias era mais bem digerido se separasse os assuntos por dias. Agora são mais de 750, e vão continuar mesmo depois de sair de Angola, com outros temas, obviamente.
A minha igreja. Ali fiz a primeira comunhao(e ultima).
A missa de domingo a tarde,(que nunca assistiamos)
acompanhando os irmaos Rola.
Os vitrais,a luz,a sensacao de paz.
No jardim, os figos angolanos,os jogos as escondidas.
Liiiiinnnnnddddddooooooo!!! Que pena,só recordacoes.
A culpa é sua Afonso, mas digo-lhe,voce algum dia fará
o mesmo, recordar com saudade, muita saudade.
Sabores,cheiros,musica,cacimbo,praias de agua calida,
o sorriso dos “candengues” e até das futeboladas.
Isso é Angola.
Um abraco.
O Aerograma já é reflexo do bocadinho de saudade que fica. Ajuda a não perder os pequenos pormenores que a memória tem por hábito esquecer.
Começámos todos em Angola há uns anos, uns mais, outros menos, eu já virei os 3 já a caminho dos 4, e ao ler os sites de Angola e ‘derivados’, agora a terminar umas breves férias no rectângulo, ao ver esta foto da Igreja, sinto-me um pouco na ‘história’ de Luanda:
Fui eu que vendi e recomendei esta côr para a Igreja (a cor originalmente escolhida ainda era pior) aquando da visita do Papa…
Não tem significado nenhum, em particular, mas olhando para estas fotos, daqui a 10 ou 15 anos (tempo que deve demorar a pintarem novamente a igreja, salvo algum motivo de força maior) olho e penso:
Epá, fui eu que vendi para alí a tinta. Fui um pedaço da história da renovação da cidade e ficou lá uma marca minha.
Para quem (como é a maior parte dos que por aqui passam), é Eng.º e participa directamente em grandes obras, isto não é nada, claro.
O que é isto comparado com o poder dizer ‘participei na recuperação da Barragem X, ou da Ponte Y? nada claro.
Mas cada um fica-se pelo que foi fazendo e participando…
(Isto independentemente do trabalho de pintura ter sido feito às ‘3 pancadas’, pela manifesta falta de tempo para o fazer melhor).
Penso que num livro de Angola devem aparecer umas fotos actuais de ruas antigas, em prepectiva.
Tipo rua do hspital Maria Pia ou rua de São Paulo.
Sedes de clubes por exemplo Sporting Benfica e Porto.
É uma ideia.
é uma pena os relatos sobre a terra estar no fim.confeço que sentirei saudades de chegar ao computador entrar no blog com a exitaçao e curiosidade sobre o tema escrito.agradecia que quando editar o livro informa-se sobre o local de venda.até la espero ler mais relatos seus.um abraço.
Afonso,
Prapare-se para sofrer muito, como já aconteceu com todos nós, os “retornados” da “actualidade”.
abraços.
x
Pelos visto o teu regresso está para breve…cá te esperamos amigo. Abraço.