Arroz e sabão
Afonso Loureiro
Contou-me a minha Mãe negra que a vida na Gabela nem sempre foi assim. Houve alturas melhores e outras piores, cada uma com as suas histórias para contar.
Falou-me da velha linha de caminho-de-ferro por onde se escoava o café da região. Foi desactivada e desapareceu com o fim dos cafeeiros, arrancados por quem fugia da guerra e precisava de comer. Os pés de café deram lugar a lavras pouco produtivas por falta de Sol. Na Gabela o café cresce no meio das árvores altas, abrigado da luz directa.
Depois falou-me da altura em que resolveu abandonar a Gabela e partir para Porto Amboím, a propósito do sabonete que mandou o neto comprar, relembrando os tempos do partido único, com o cartão de abastecimento a ter de ser usado para comprar o pouco que chegava às lojas. Lembrava-se em especial do dia em que quis ir comprar óleo, farinha e peixe seco para um óbito. Na loja disseram-lhe que não podia levar nada disso. Ela reclamou que o cartão ainda dava. O lojista confirmou ‘’O cartão dá, mas este mês só tenho arroz e sabão!’’.
Agora não há cartão de abastecimento
Diz que talvez tenha ajudado um pouco à decisão quando a UNITA chegou à cidade e montou uma delegação pertinho de casa. Os filhos mais velhos, na altura soldados nas FAPLA deixaram de poder ir a casa e ela estava a ficar cheia de saudades.
Ups, fiz pessegada. Não era nest post que queria comentar mas sim no último!
Tudo tem remédio. Já passei o comentário para o artigo certo.