Em pinturas
Afonso Loureiro
Costuma-se dizer que as melhores histórias nascem das piores decisões. Neste caso, a história até nem é nada de especial. É, talvez, uma não-história. E a má decisão nem sequer foi minha. Aliás, é de dois desconhecidos que me recordaram outro, a meio mundo de distância.
Pouco antes do Natal de 2008, com cerca de seis meses em Angola, julgava haver já pouco com que me espantar, quando deparei com um artista pintando a fachada de uma loja. Para se proteger do Sol de Verão improvisou um chapéu com uma caixa de chá. As zungueiras faziam o mesmo com as pontas dos panos, que entalavam debaixo do alguidar onde transportavam a mercadoria.
Chapéu improvisado
Esse episódio ficou quase esquecido. Depois dele houve outros muito mais marcantes que lhe roubaram o lugar no pódio das memórias. Recordei-o no dia em que, já em Portugal, vi alguém dar retoques na pintura da fachada do prédio.
«Fica descansado que eu seguro-te»
A situação seria banal caso não se tratasse de um oitavo andar. A combinação do escadote periclitante com a janela aberta e um pintor mais pesado do que quem o segura poderia, facilmente, ter sido o início de uma notícia de jornal.
É óbvio que a pintura em Angola aguça o engenho, mas em Portugal desenvolve o assumir riscos estúpidos.
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