O neto de Dragão
Afonso Loureiro
Os leitores regulares do Aerograma devem recordar-se das vezes em que falei do meu único elo de ligação familiar a África e Angola, o meu avô materno. Apesar de não o ter conhecido, por ter morrido décadas antes do meu nascimento, sei que viveu no sul de Angola seis anos, cumprindo o serviço militar durante a Primeira Guerra Mundial.
Pelas terras dos Cuanhamas combateu as forças alemãs vindas da Namíbia e terá, talvez, feito parte dos efectivos do General Pereira D’Eça. A sua caderneta militar regista uma Cruz de Guerra, mas tal medalha nunca foi avistada, talvez porque o exército atribuía a condecoração e o soldado, se a quisesse usar, tinha de a ir comprar.
Companhia de Dragões em Angola
No longínquo início do século XX, com a Cavalaria ainda dependente dos cavalos, havia soldados que combatiam a cavalo ou a pé, conforme as circunstâncias ditassem – os Dragões. O meu avô fazia parte de uma das unidades destacadas para a fronteira com a possessão alemã da África Ocidental.
Como em todas estas coisas, o facto de, no papel, serem unidades de cavalaria, não quer dizer que houvesse cavalos. De facto, consta até que os cavalos fossem um pouco como as medalhas e que, na maioria dos casos, andassem apenas os oficiais a cavalo.
Cantil de barro
Uma das peças mais curiosas que chegou da passagem do meu avô por terras angolanas foi o seu cantil de campanha. Uma grande peça de barro com capacidade para alguns litros de água acompanhou-o ao longo de seis anos. A corda foi substituída há pouco mais de uma década, mas o cantil tem perto de um século. Fico sempre espantado como chegou inteiro até aos dias de hoje, tendo passado por operações militares a meio mundo de distância.
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