Passam despercebidos
Afonso Loureiro
Quando se fala das estradas de Luanda, é quase impossível deixar de mencionar as obras e os candongueiros. Fazem parte da paisagem, como os buracos e os esgotos que também poucos se esquecem.
A verdade é que as obras têm trazido melhorias, embora o transtorno do prazo de conclusão ser algo vago custe a aceitar quando se fica parado no engarrafamento horas a fio. Os troços de asfalto novo e as estradas mais largas permitem circular mais depressa, por vezes demasiado depressa, por exemplo quando, na estrada nova, se abre uma vala funda sem qualquer aviso. Diz quem sabe, que as inversões de marcha nas faixas da esquerda, baratinhas em termos de construção de obras de arte, acabam por se tornar verdadeiras armadilhas, com veículos lentos a cruzar as faixas mais rápidas.
As estradas recuperadas em áreas urbanas também ficam conhecidas por se tornarem locais de atropelamentos mortais diários, como a estrada que liga Benguela ao Lobito ou a Circular de Luanda.
Mas o que trata este artigo não são os pontos bons ou maus da estrada, nem a sua imagem. Que estão a melhorar e a mudar todos reconhecem. O propósito do artigo é acerca de algo muito comum nas ruas de Luanda, mas que, na maioria das vezes passa despercebido no meio da confusão dos pregões dos cobradores dos candongueiros e zungueiros. O pó dos dias secos e a lama dos dias de chuva distrai-nos e quase sempre nos preocupamos com o que os outros condutores estão a fazer, especialmente os dos carros mais batidos.
Enquanto procurava fotografias interessantes para ilustrar um artigo sobre candongueiros, reparei em algo que já suspeitava, há muito mais carros de luxo a circular do que se julga, mas a verdade é que, são mais sóbrios que as iáces e os corolla vermelhos assucatados, pelo menos os gama condizente com riqueza não-ostensiva.
Preocupamo-nos com os azuis-e-brancos, o resto é pacífico
Também ajuda a passarem despercebidos o facto de os seus condutores serem, na maioria das vezes, muito mais cuidadosos que os restantes, resistindo estoicamente a dar m’baias à primeira oportunidade. É seguro que não perdem uma ocasião de entrar primeiro, mas raramente arriscam a pintura. Instintivamente, ignoramo-los para nos preocuparmos com a acelera a circular em contra-mão ou o candongueiro a parar em terceira fila na via rápida.
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