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11 2010

Águas Radium

A Cova da Beira, entalada entre as serras da Gardunha, Estrela, Malcata e Opa, tem fronteiras bem definidas. A planície aluvial é delimitada por grandes desníveis, que explicam, a par do clima ameno, a fertilidade das terras.

O seu extremo norte é marcado por uma subida abrupta. Em poucos quilómetros passa-se dos cerca de 500 metros de altitude para os 900, e entra-se no planalto rochoso das terras do Alto Côa, onde as giestas disputam com os granitos a primazia da paisagem.

Nestas vertentes cavadas, os filões de urânio e volfrâmio ficam quase expostos, tendo sido explorados intensivamente durante a Segunda Guerra Mundial, especialmente para a indústria metalúrgica, uma vez que o volfrâmio permitia endurecer as blindagens de tanques e couraçados. Depois da guerra, fecharam, naturalmente.

A indústria mineira não se estabeleceu na região por acaso. A existência de minerais radioactivos é conhecida desde há quase um século. Era desta região que provinha a Água Radium, água mineral com sais de rádio em suspensão, muito radioactiva, mas que, na época, se acreditava ter propriedades medicinais.

A crença era de tal forma forte que, não só se engarrafou a água, como se construiu um complexo termal. Nunca prosperou verdadeiramente e a guerra, que trouxe as companhias mineiras, afastou os termalistas. A falta de acessos e o esquecimento a que foi votada a região ditou o fecho definitivo.

Águas Radium
Ruínas das termas

A ruína era inevitável e, durante décadas, o hotel e as instalações termais foram-se degradando e desfazendo aos poucos. Hoje, restam quase só as paredes.

No final do séc. XX, houve uma tentativa de reabilitação do complexo termal, com o intuito de a transformar numa estância de golfe, negócio que parecia estar na moda nessa época, com campos a nascer às centenas por todo o país. Este projecto era um pouco mais megalómano que os demais, uma vez que se começava pelo hotel antes de haver o golfe.

Iniciaram-se as obras de recuperação, formalizaram-se sociedades gestoras, imprimiram-se brochuras com planos arrojados e procurou-se sócios para o investimento. Mas os sócios não apareceram. A falta de acessos voltou a ditar o fim do negócio.

Projecto
Projecto da estância, em 1995

Dessa época sobram as obras incompletas e alguns materiais impressos, como os prospectos em Castelhano para atrair sócios do lado de lá da fronteira, os clientes mais naturais desta região, caso não existissem campos de golfe em Espanha. Cupões de desconto em unidades hoteleiras da região propriedade de alguns dos sócios da nova empresa e desenhos com o aspecto da obra concluída também se encontram com relativa facilidade. Grande parte dos projectos megalómanos termina assim.

Acerca do autor

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Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

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