Acabaram os guardadores de vacas e de sonhos
Afonso Loureiro
Os fenómenos de desertificação do interior e envelhecimento da população rural não se vêem apenas nas casas abandonadas e campos incultos, vêem-se nas caras e rugas dos que resistem e no que fazem para preservar o seu modo de vida.
Há algumas décadas, as crianças do campo cresciam também a guardar gado. Hoje em dia, poucos pastores restam e os últimos rebanhos reduziram-se a algumas cabeças de gado por aldeia. São os mais velhos que agora, sem escolha, guardam cabras enquanto os mais novos emigram. Nunca regressarão. Estão demasiado desligados da terra para o fazer.
Pastora
A escola abre portas que nunca mais se fecham. Quem estuda não quer tornar a apascentar gado ou ao trabalho duro do campo. Apenas o equacionam em momentos de desilusão, como Fernando Pessoa e a sua pobre ceifeira que canta.
Mas os velhos a guardar o gado são apenas o reflexo do fim de algumas tradições. O conhecimento deixou de se transmitir de mestre para aprendiz. Não há quem queira dedicar a vida a saberes ultrapassados, até porque as aspirações modernas não se saciam com tradições oriundas da subsistência.
Será que as futuras gerações compreenderão a verdadeira dimensão da vida do guardador de vacas e sonhos de nome Constantino?
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