Arte popular
Afonso Loureiro
Na zona saloia, especialmente, poucas são as hortas ou jardins que não tenham o seu catavento improvisado, reciclando a ventoinha de um radiador e outros pedaços de sucata em forma de avião ou moinho. Giram, ruidosamente, ao sabor dos ventos mais ou menos constantes da região, fenómeno atestado pelos inúmeros moinhos que se espalham pelo horizonte.
Na maioria dos casos, estes cata-ventos não merecem grande atenção. São toscos e parecem ser o resquício de um projecto ambicioso abandonado logo no início. Mas há outros, verdadeiras obras de arte popular, que mereciam livros inteiros.
Estes últimos são de tal forma apelativos que começo a duvidar do meu amor desmedido por fotografar portas. As portas começam por ser objectos com utilidade que depois ganham outra expressão graças ao desenho. Os cata-ventos de quintal são apenas a justificação para a arte.
Caçador e aeromotor, combinação improvável
Alguns cata-ventos revelam dias de trabalho árduo e dedicação, mas também muita da improvisação natural com que nascem os portugueses. É uma pena que quase todos terminem a sua carreira como um pedaço de chapa enferrujada a marcar a esquina de uma parreira.
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