O que se aprende no centro de saúde
Afonso Loureiro
Por mais corriqueiro que seja o motivo, uma visita ao Centro de Saúde implica passar um dia inteiro numa sala de espera tão confortável como uma masmorra medieval, mas sem as chicotadas e a palha podre no chão. Há grades nas janelas, frio, humidade na parede e cadeiras de plástico muito velhas a fazer a vez de catres. Desconfioaté que o segurança na portaria faça uma ronda de vez em quando só para espreitar pelo postigo – podia atirar uns pedaços de pão velho para nos entretermos, mas isso já era pedir muito.
Como há que ver o lado positivo em todas as situações, estas visitas têm de contribuir para o nosso enriquecimento pessoal, porque há muito para aprender.
Para além de se poder cultivar uma paciência digna do Buda, buscando o Nirvana em contemplação dos horrorosos azulejos de casa-de-banho que revestem as paredes, catalogam-se sintomas, aflições e horários de autocarros pela boca das reformadas que entabulam conversas com a última dor «que me apanha isto tudo» e o número de comprimidos que tomam todos os dias. A burocracia impera e emperra todo o sistema. Marcar uma consulta de urgência só para daqui a dois meses e tem de tirar senha para lhe carimbar a receita.
Mesmo assim, no meio de tanta normalidade, aprendem-se coisas novas e insuspeitas. Abreviaturas, por exemplo. É sabido que Doutora se abrevia como Dr.ª, mas quem julgava que Doutor se abreviava da mesma maneira excluíndo simplesmente o A engana-se redondamente. Aprendi hoje, no Centro de Saúde, que se escreve Dr.º, com O. Nem mais, nem menos.
Abreviatura de Doutor
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