O Tavares. De Munique!
Afonso Loureiro
O nosso cantinho à beira-mar plantado, a saber ao sal do oceano que nos fascina como povo e que, com a sua imensidão, nos faz sentir ainda mais pequenos, é realmente pequenino, pelo menos em extensão territorial, quando comparado com outros países. Temos um país com a escala certa, que se pode percorrer de lés-a-lés num único dia, caso não queiramos apreciar a paisagem sempre variada, ou numa semana, em viagem mais pausada.
Sabemo-lo pequeno e, quando nos vemos no estrangeiro, fazemos questão de o partilhar. Habitantes de países ainda mais diminutos não o fazem, talvez pela falta do oceano como comparação, ou por acharem que fronteiras terrestres são meras convenções. O certo é que os portugueses fazem passar a imagem de que o país é mais pequeno do que realmente é e, apesar de haver um português em cada esquina por esse mundo fora, quase todos julgam que somos poucos. Os portugueses passam despercebidos. Para o bem e para o mal.
Certa vez, graças a esta imagem que os outros têm de nós, sucedeu-me um episódio curioso. Num restaurante no norte de Itália, o empregado, já velhote, meteu conversa e dizia não reconhecer a língua. Pareceu-lhe italiano à distância, mas não compreendia as palavras. Quando percebeu que éramos portugueses não deixou de dizer as duas palavras universais «Fátima» e «Figo» (na época, o Cristiano Ronaldo ainda não era conhecido). Acrescentou ainda que gostava muito de portugueses e, aliás, até tinha um excelente amigo português, o Tavares. E depois, como que esperando que alguém se acusasse como íntimo desse Tavares que priva com italianos, acrescentou, com um imenso sorriso: «De Munique!»
Foi uma desilusão. Ninguém o conhecia. Somos mais do que julgava.
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