Aerograma

Isento de Porte e de Sobretaxa Aérea

01 2011

Arqueologia municipal

A Av. Miguel Bombarda sofreu grandes obras nos últimos dois anos. À custa dos logradouros decrépitos dos prédios a nascente, a rua e os passeios foram alargados. As árvores, quase todas em péssimo estado, à conta de podas assassinas anuais, foram substituídas por outras. Ainda são apenas uns paus espetados nos caldeiros, mas hão-de crescer.

A face mais visível das obras são as fachadas dos edifícios de meados do século passado, agora recuperadas e pintadas. A rua tornou-se mais luminosa e aparenta ser mais larga. Mas as obras não se limitaram ao alargamento da rua, nem à pintura dos prédios. A parte mais importante – e demorada – passou-se abaixo do chão. A instalação de novas redes de esgotos e águas foi o principal motivo da obra. Ambas sofreram uma grande pressão quando, há cerca de vinte anos, se construiu uma gigantesca torre incaracterística junto à estação.

Felizmente que, hoje em dia, obras desta envergadura têm de ser acompanhadas por arqueólogos. Nunca se sabe que memórias se vão desencantar. Quem convive com arqueólogos municipais costuma ouvi-los reclamar que grande parte do seu trabalho é apenas um registo mais ou menos exaustivo do que se vai destruir. Contam também casos de arrepiar de património destruído intencionalmente para evitar o estudo arqueológico e eventuais atrasos nas empreitadas.

As características desta obra permitiram que o acompanhamento arqueológico fosse efectuado com mais calma e se pudesse decidir melhor qual o destino a dar aos achados mais importantes. Neste caso, as estruturas mais significativas encontradas foram algumas minas em alvenaria de pedra, escavadas segundo uma orientação aproximadamente perpendicular ao talvegue da encosta de maior declive. Seguem a orientação recomendada por geólogos já no séc. XIX para interceptar o lençol freático – geólogos estes que se imitaram a sistematizar o que os romanos já aconselhavam, adianto eu.

Memória da mina
Traçado da mina

As minas, hoje sem qualquer serventia ou interesse patrimonial, foram, em grande parte destruídas. Mas os trabalhos do gabinete de arqueologia da Câmara influenciaram o projecto final e foram desenhados na calçada os traçados das galerias encontradas, ao lado dos quais foi colocada uma placa explicativa. A memória não se perdeu.

Acerca do autor

1

Nascido no século passado com alma de engenheiro, partiu para Angola, de onde envia pequenos aerogramas.

Deixe uma resposta

Nota: Os comentários apenas serão publicados após aprovação. Comentários mal-educados, insultuosos ou desenquadrados serão apagados de imediato.

« - »