Malangatana
Afonso Loureiro
Andava há uns dias a pensar no que seria feito de Malangatana. Tão poucas eram as notícias que cheguei a supor que teria já morrido. Puxei pela memória e a última notícia que consegui recordar do pintor foi a da sua intervenção acerca de um muro construído em Maputo para que os dignitários de uma conferência não vissem os bairros degradados entre o aeroporto e o centro da cidade. Acrescentava ele, ironicamente, «assim também não os vejo eu a passar». Malangatana, o embaixador cultural de Moçambique morava nesse mesmo bairro perto do aeroporto.
Mas esta notícia tem mais de uma década, seguramente. Não sabia ao certo a sua idade, mas acreditava não ser rapaz novo, uma vez que me lembrava de ver uma escultura sua no Portugal dos Pequenitos – uma árvore inteira cheia de rostos e olhos inquisidores e corpos que crescem como se fossem a própria árvore, dando vida à madeira morta. Marcou-me profundamente, pois quase não me lembro do resto, mas dessa árvore guardo uma memória nítida.
Pensava eu não haver notícias porque teria morrido discretamente, há alguns anos. Enganei-me redondamente. Morreu no princípio deste ano no Porto, muito longe da sua casa atrás do muro da estrada do aeroporto de Maputo. Mas deixou uma marca enorme, que o tornou imortal.
e de facto deixou “uma grande marca” e que descanse em paz!