Lixo noticioso
Afonso Loureiro
Quanto mais vejo noticiários, mais chego à conclusão de que o nivelar por baixo impera, que o ruído se sobrepõe ao conteúdo e de que o botão de desligar é, de facto, o mais útil na televisão.
A tendência não é recente, mas a aposta na quantidade de notícias ao invés de em notícias de qualidade obriga as redacções a encherem cada vez mais espaço com fait-divers, quadrilhices, emissões em directo de nenhures para aparentar trabalho incansável em busca do único facto que ainda não foi comunicado naquela notícia que não interessa a ninguém.
Todos os dias somos bombardeados com as notícias para encher, que acabam por sufocar todas as que mereciam mesmo ser noticiadas. Os jornalistas, que deveriam ser os primeiros a reclamar desta falta de brio, sabotam-se a si mesmos, repetindo os comunicados das agências noticiosas sem os analisar, cumprindo a meta diária de palavras que têm de produzir, não interessando muito se são boas ou não.
Será que os jornalistas e editores não se perguntam a si mesmos se haverá notícias que não mereçam esse nome? Parece que cederam todos ao sensacionalismo puro e duro. O que importa não é a importância da notícia, é o sangue e a histeria que a rodeiam. Falar de coisas importantes mas aborrecidas não vende jornais, mas mexericos de cabeleireiro, isso sim, garante horas de antena.
O caso do momento chama-se Renato Seabra, que ganhou os seus quinze minutos de fama ao matar uma das figuras de referência dos mexericos e agora está a contas com a justiça de outro país. Já se chamou Carlos Cruz, Vale e Azevedo, José Tallon e por aí fora. Em comum, só o sangue, o crime, o espiolhar em directo os pormenores sórdidos para encher os directos.
A notícia foi dada e acabou. Ponto final. Deixem o resto para a justiça e, se for mesmo importante, comuniquem a sentença. Não percebo porque razão, duas semanas depois, ainda é notícia de abertura o diz-que-disse em relação ao caso. Alguém se está a marimbar para a história?
O governo toma uma medida que terá influência directa nas vidas de todos nós? Não é preciso alardear muito a questão, mostra-se mais uma vez a história da viagem a Nova Iorque ou fala-se de futebol. As pessoas gostam mais.
Os que não gostam, têm bom remédio, comem o que lhes põem à frente, porque as verdadeiras notícias já não conseguem furar a barreira do ruído e, alegremente, desligam a televisão e vão ler um livro.
Subscrevo inteiramente e já não vejo noticiários televisivos. Leio aqui e já que falas de futebol, também já reclamei com o SAPO que na rubrica de Desporto só escrevem sobre o futebol. Depois os erros…as gralhas…enfim neste país impera a quantidade e muito pouco a qualidade e pior do que isso é que a cretinice versus burrice está impegnada nos chefes, directores, gestores etc sem darem oportunidade aos mais novos. (Há excepções)
Uma boa semana