A "ajuda"
Afonso Loureiro
Há algumas semanas oficializou-se o que já se suspeitava desde o final do Verão do ano passado. O Fundo Monetário Internacional veio "ajudar" Portugal a sair da crise.
Curiosamente, se folhearmos os livros de História com atenção, a "ajuda" internacional tem sido prestada a Portugal a cada novo século que passa desde que o D. Sebastião arranjou maneira de se matar em Alcácer-Quibir.
Dois anos depois do Rei desaparecer, em 1580, vieram os ingleses auxiliar a pretensão do Prior do Crato à Coroa Portuguesa. Desembarcaram em Peniche e, garbosamente, saquearam as povoações por onde passaram até Lisboa. Felipe II tornou-se Felipe I de Portugal e esses ingleses ficaram para sempre conhecidos como «os amigos de Peniche».
O séc. XVII é uma verdadeira desgraça, cujo ponto mais alto culmina na perda da frota, incorporada na Invencível Armada, nas colónias ocupadas pelos holandeses, que estavam em guerra com Espanha e muitos outros revezes.
No séc. XVIII, a "ajuda internacional" não é tão óbvia, mas nem por isso deixa de ser onerosa. Devido à sua situação geográfica, as interpretações mais heterodoxas do cristianismo perduraram em Portugal e continuam visíveis nas capelas dedicadas aos Senhores e Senhoras disto e daquilo, localizadas exactamente nos locais de culto de outras divindades disto e daquilo. A interpretação que Roma fazia de nós não era abonatória. A Inquisição tinha trabalhado afincadamente nos últimos séculos e concluía que éramos um bando de heréticos. Por coincidência, descobriu-se ouro em quantidades prodigiosas no Brasil e D. João V, para além de ser dado ao luxo, pagou indulgências que chegassem para um país inteiro. Roma passou a olhar para nós como bons heréticos.
Logo a inaugurar o séc. XIX, os nossos aliados ingleses vieram em nosso auxílio, para nos salvar das tropas de Napoleão. Da altura sobram ainda questões por resolver, como Olivença, ocupada pelos Espanhóis na confusão, e algumas expressões populares, como «ir para o maneta» (diz-se que em homenagem ao cruel general francês Loison, que era maneta).
Os ingleses vieram, lutaram contra os franceses e, cavalheirescamente, deixaram-nos partir com todo o saque que desejassem, gado incluído. Foi uma ajuda e tanto, que deixou o ouro e pinturas das igrejas e palácios de todo o país a nas bagagens do exército derrotado. É uma estranha forma de capitulação em que o vencedor dá os despojos ao vencido.
Um século mais tarde, numa crise de afirmação da República Portuguesa, alguém sugeriu que o novo regime político poderia receber ajuda externa se se aliasse aos presumíveis vencedores da Grande Guerra. Formou-se o Corpo Expedicionário Português, a carne para canhão preferida do Exército Inglês na Batalha de La Lys. Para além dos milhares de mortos, Portugal recebeu duas locomotivas alemãs como despojos de guerra. Mas teve de pagar o transporte até Lisboa. Saíram caras, mas a República ganhou aliados.
Mais cem anos e aí vem mais uma dose de "ajuda internacional", desta feita chamada FMI. Povo de brandos costumes, acha que todos são como ele. Quando é que aprendemos?
e a ajuda de 1983 a 1986, ironicamente com o PS no poder? e sem consultarem o povo entrámos na CEE, depois UE e agora de novo…ironicamente PS.
Gostei imenso desta parte da história que desconhecia, assim como as três partes do Adamastor, que li e não consegui comentar.
Um abraço e obrigado por este momento de leitura!
Ironicamente, parece que continuamos sem aprender…