Os pombos decrépitos
Afonso Loureiro
O fim dos pombais no centro da cidade e o seu cada vez menor número nas periferias levou a que a população de pombos assilvestrados aumentasse muito. De aves estimadas passaram a praga e ganharam o epíteto de ratos com asas. A diminuição dos espaços onde podiam pastar – porque os pombos pastam como ovelhas – fê-los alimentar-se cada vez mais de lixo.
Para conseguir controlar o seu número, a Câmara Municipal de Lisboa começou a distribuir ração com anti-concepcionais, porque os pombos se reproduzem a velocidades estonteantes – outra comparação com os ratos. O número de borrachos decresceu dramaticamente. Em muitos bairros onde os pombos são alimentados, a população está reduzida a pombos adultos.
«Quando passa o próximo comboio?»
Ao mesmo tempo, a colocação de espigões afiados em quase todas as estátuas e fachadas das zonas nobres, para evitar que os pombos lá pousem ou nidifiquem, provocou inúmeros acidentes. Raro é o pombo que não tenha pelo menos uma pata embotada em resultado de uma infecção.
Tudo isto levou a que os pombos de Lisboa pareçam cada vez mais decrépitos. Por um lado deixou de haver pombos novos, por outro lado os que sobrevivem estão velhos e doentes. Basta ir a uma praça da Baixa e ver como estão quase todos coxos e com a plumagem baça e desalinhada. Até o ritual de arrastar a asa atrás das pombas é ridículo quando feito por um pombo magro, sujo e que coxeia em cada volta.
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