O efeito Attenborough-Louçã
Afonso Loureiro
É curioso como certas pessoas têm uma cadência e timbre de discurso de tal forma característico que chegam a substituir a nossa voz interior quando lemos alguma coisa escrita por elas. Ler um artigo sobre etologia, colibris, plantas carnívoras ou qualquer outro assunto similar assinado por Sir David Attenborough é o mesmo que tê-lo confortavalmente sentado entre as nossas orelhas a narrar uma história como faz nos programas da BBC. Sem darmos por isso, ouvimos a voz pausada e algo ofegante de alguém que acabou de atravessar meia África para nos mostrar uma coisa interessante como um ovo de avestruz a eclodir.
É essa a justificação da fotografia que ilustra este artigo. Um fenómeno curioso que ganha uma aura de qualidade se for explicado com a entoação de Sir David: «Aqui, no meio da floresta, encontramos uma das maravilhas do mundo natural – uma colónia de minúsculos cogumelos brancos que sobrevivem nas fendas da casca de um pinheiro.»
No meio da floresta, uma árvore coberta de pequenos cogumelos
Julguei ser difícil encontrar outra voz tão característica até ao momento em que li um livro de Francisco Louçã. As primeiras páginas foram desconcertantes. A cada frase lida tinha a sensação de ter o próprio Louçã num canto da sala a ler em voz alta. O ritmo com que fala é exactamente o ritmo com que escreve.
Let’s have a look!