Faz parte da vida
Afonso Loureiro
«Lá estás tu a fotografar bichos mortos!», torno a ouvir enquanto tento enquadrar um desgraçado animal atropelado. Se for possível, a seguir tenta-se pô-lo na berma para que não acabe como uma pasta vermelho-acastanhada no asfalto. Um gesto inútil talvez, mas que para mim representa algum respeito. O mundo moderno passa demasiado depressa pela vida selvagem.
Já me apercebi que, infelizmente, esta é uma das maneiras de avaliar as populações de animais selvagens – contar os mortos para saber dos vivos. Um terço das raposas que vi, tinham sido atropeladas. A última, foi há cerca de um ano, perto de Cinfães. Descobri recentemente a fotografia desse dia. Não me lembrava que a cena fosse tão feia. É por isso que só mostro um plano mais fechado.
Luta desigual
Não será pela última vez que oiço uma voz enojada reclamar do que tenho em frente da objectiva. Por vezes é a minha própria consciência que o pronuncia. Não o faço por curiosidade mórbida ou algo que o valha, mas sim por acreditar que nas fotografias não devem entrar apenas os momentos felizes. Todos os momentos marcantes devem constar nestas memórias artificiais, exactamente como nas nossas. Tudo faz parte da vida, até a morte – mesmo que se tente não o mostrar.
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