MFA, Povo. Povo, MFA.
Afonso Loureiro
É verdade que os graffiti vulgares são feios. Por alguma razão os próprios executantes chamam vomitado (throw-up) às suas mais frequentes "obras". Por outro lado, é inegável que há excelentes artistas ligados ao graffiti, com peças autorizadas a decorar paredes um pouco por todo o lado.
Os graffiti são a evolução da nobre arte de gatafunhar nas paredes, tradição que remonta, pelo menos, à época Romana, conforme atesta uma parede em Pompeia repleta de escritos cheios de actualidade como «Fulano é corno» e «Abaixo Sicrano».
Logo a seguir ao 25 de Abril, uma verdadeira febre de brocha e lata de tinta em riste assolou Portugal. Os tempos conturbados e a crise ditavam chavões e murais carregados de ideologia de todas as cores políticas. Muitos desses murais desapareceram com o tempo ou com a demolição das paredes que lhes serviam de telas. A grande maioria, como acontece com quase todos os escritos muito contextualizados, perdeu o significado. Até mesmo o famoso «Reagan go home» é capaz de não dizer nada a muita gente.
Mas são exactamente estes escritos carregados de mensagens políticas que demonstram a evolução das coisas e a passagem do tempo. Cá por Queluz houve alguém muito atarefado que dispunha de uma lata de tinta verde à prova de tudo. Passados mais de trinta anos ainda se consegue ler «Soares Carneiro Ladrão», «AD = Fome», «Otelo a presidente» e «Greve Geral» um pouco por toda a parte velha da cidade.
Soldadinho do MFA
O meu gatafunho preferido desta época é o discreto soldadinho do MFA que continua a fumar o seu cigarro sossegado da vida, pintado com a imputrescível tinta verde da praxe.
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