Centum Cellas
Afonso Loureiro
Na pequena povoação de Colmeal da Torre, localizada a poucos quilómetros de Belmonte, ergue-se uma curiosa ruína que parece deslocada tanto no espaço como no tempo. Trata-se da torre de Centum Cellas ou de São Cornélio, devido a uma capela que lá esteve instalada e devotada a este santo que deu nome a muitos lugares nesta região.
Parece deslocada no tempo porque resistiu melhor ao tempo que as demais ruínas do complexo, fruto de sucessivos reaproveitamentos, que a tornam parecida – em termos de estado de ruína, pelo menos – com as termas das Águas Radium, abandonadas há pouco mais de duas décadas. Aparenta estar deslocada no espaço porque surge no meio de uma pequena aldeia, rodeada por vinhas, como uma peça de cenário esquecida.
A torre de Centum Cellas
Dizem os estudiosos que o arquitecto responsável pela sua construção, há perto de vinte séculos, era profundo conhecedor da obra de Vitrúvio, que sintetizou em dez livros as mais avançadas e seguras técnicas de construção da época romana. A durabilidade do edifício atesta a qualidade dos ensinamentos.
Do pouco que se sabe da história desta torre e do complexo em que se insere consta o nome provável do seu proprietário, Lucius Caecilius, negociante de estanho. Não são conjecturas totalmente descabidas, uma vez que Caecilius é remotamente parecido com Cellas e a região é conhecida pelos seus recursos minerais, entre os quais o estanho. Aliás, poucos quilómetros a norte encontram-se as ruínas de antigos fornos de estanho na freguesia de Moita do Jardim e na região do Fundão, um pouco a sul, há minas de chumbo e estanho.
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