Pratos tradicionais
Afonso Loureiro
Algo de muito esquisito se passa com a gastronomia portuguesa deste novo século. Parece que se ressuscitou o bacalhau, que era da Terra Nova e dos pobres e agora vem da Noruega e é para gente fina.
Todo o cozinheiro televisivo acha ter direito a uma variante de receita de bacalhau, de preferência com cogumelos da Alta Toscânia envelhecidos em cascos de carvalho e pequenas porções de molho de ostras, servido num prato gigante com um ramo de salsa. Rematam com uma declaração de que assim defendem a gastronomia tradicional.
Entretanto, no talho do bairro, porque há sempre o reverso da medalha e a televisão, por muito que tente, não é o espelho da civilização, os próprios talhantes nos vão avisando que muito do que era tradicional está simplesmente a ser substituído pelo bife.
Parece que do porco já não se come tudo. A salada de orelha causa arrepios a quem não sabe como vão parar os frangos à prateleira do supermercado e as iscas, as fabulosas iscas de cebolada que se podiam comer em qualquer tasca de qualidade, ficam a rebolar no expositor. As iscas metem-me nojo, mãezinha! Acabam oferecidas ao canil.
Iscas com elas na panela ao lado
Já não me recordo da última vez que vi um restaurante a servir as famosas «Iscas com elas», nem peixinhos da horta ou qualquer outra iguaria que caiu em desfavor social. Se bem me lembro, não gostava lá muito de peixinhos da horta quando era pequeno, mas agora fazem-me falta.
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