Cinema Caleidoscópio
Afonso Loureiro
Sempre conheci o edifício Caleidoscópio como livraria. Mais umas pequenas lojas com poucos clientes preenchiam o espaço, mas era a livraria que me enchia as recordações.
O original painel de azulejos em relevo perto da porta sempre me pareceu um pouco deslocado para decorar um centro comercial tão modesto. Só depois de descobrir que tinha sido um cinema que viu os seus dias áureos em pleno PREC.
Estava justificado o painel. Era da época em que uma ida ao cinema ainda era um evento cultural, ao invés de uma sessão de degustação auditiva das pipocas do vizinho.
Painel do Cinema Caleidoscópio
Por alguma força miraculosa, sobreviveu às bexigas apertadas dos clientes da discoteca ao lado e escapou incólume à brigada das tintas e rabiscos que assola os espaços públicos.
Sempre que vejo estas obras de arte incluídas na arquitectura não deixo de pensar no que terá acontecido nas últimas décadas. Os arquitectos só se preocupam com as grandes linhas, com a maquete apresentável, com os materiais escolhidos no catálogo. Para onde foi o cunho pessoal, a obra de arte encomendada para a fachada?
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