Esticando as pernas
Afonso Loureiro
Vindos lá da província de Benguela, tivemos de parar algumas vezes no caminho para esticar as pernas. A foz do Cubal e a Canjala foram os locais eleitos. A escolha não se deveu apenas ao cansaço, mas também à existência de mercados agrícolas em ambos.
Na foz do Rio Cubal vende-se essencialmente bananas. Há grandes plantações ali perto. São baratas e bem boas.
Vendedoras de bananas
Os atractivos deste sítio são mais do que comerciais, há também formações geológicas muito interessantes. As camadas sedimentares que formam as arribas junto à costa vão sendo cortadas pelos rios que conseguem atingir o Atlântico. Há outros que se perdem nas areias do deserto do Kalahari. Aqui o espectáculo é magnífico!
O Rio Cubal bem encaixado
Quem aqui pára, geralmente não contempla a paisagem tecendo considerações acerca da sua beleza. Daqui apenas tiram o magro sustento.
Guardador de bananas e de sonhos
Junto das vendedoras de bananas também há lavadeiras, que aproveitam a sombra da ponte para tratar da roupa, que depois fica a corar ao sol nas moitas em redor.
Com esta aglomeração de gente, há sempre alguém que prepara refeições, ganhando mais alguns Kwanzas e enganando a fome.
Onde há mulheres, há crianças. Até terem idade para ir à escola acompanham a mãe. É costume ver as mulheres com três filhos. Um pela mão, outro às costas e mais um na barriga.
O sono dos justos, o almoço e a roupa a corar
Na Canjala, mais uma zona martirizada pela última guerra, o mercado é maior. Tem mais variedade e quantidade. Tem também dezenas de miúdos que cercam os carros a tentar vender sacos de plástico, guardar o carro, limpar-lhe o pó ou só receber dinheiro para não ser tão chatos. Fazem pela vida da maneira que podem.
Assim que se pára o carro, é-se cercado por uma multidão de caras novas. Os rapazes, que ainda não têm idade para conduzir um táxi, vendem sacos de plástico para as compras. As raparigas, algumas já com filhos às costas vendem sacos de ginguba, garrafas de óleo de palma e farinha. As mulheres ficam nas bancas onde vendem quantidades maiores.
As carreiras regulares de autocarros que ligam Luanda às províncias do Sul param sempre aqui e o negócio é feito através das janelas para não se perder muito tempo.
O cerco
As bancas
Arranjando o cabelo
Esperando os clientes
Mesmo nas várias bancas se notam diferenças. Há bancas mais bem abastecidas, com produtos viçosos e de aspecto fresco. Outras, mais modestas, compram a mercadoria às anteriores e vendem mais barato.
Os preços não são os mesmos de Luanda. Este é um mercado de província, afinal. Comprei alguns quilos de mandioca por apenas 200 Kz. A maior de todas media quase 80 cm.
Roendo uma laranja
Fui convencido a experimentar banana-pão. Comprei uma quantidade incrível por 1000 Kz. Sozinho não teria comprado tanta, mas o condutor insistiu que era bom e que valia mesmo a pena. Depois conto como foi.
As compras feitas
O cerco, outra vez
Também me convenceram a experimentar uma fruta cá da terra, o mabok. Há com cada coisa mais estranha por estes lados… A melhor maneira que tenho para descrever o mabok é que se trata do cruzamento entre um coco, um maracujá e um prato de moelas. Parece um maracujá grande, é tão duro que só se abre à pedrada e depois está cheio de uns pedaços muito escorregadios com um caroço que não se separa com facilidade. É ácido e com um sabor característico que não é desagradável.
O elo perdido
Depois desta última paragem, metemo-nos à estrada para chegar a Luanda lá pela hora do jantar. A longa viagem deu-me tempo para meditar acerca do que une e separa as gentes da Canjala e da foz do Cubal.
Ambos os locais partilham uma ponte do tempo do colono destruída, uma ponte metálica apoiada nos pilares antigos e uma ponte nova alguns metros a jusante do rio. Terá sido a falta de ponte que tornou possível a existência dos mercados?
Antiga ponte da Canjala
Antiga ponte do Cubal
O rio tinha de se atravessar, nem que fosse de barco. A necessidade de trocar os produtos deve ter obrigado a que as gentes se fossem juntando nas margens. Os mercados estabeleceram-se e cimentaram-se… mas isto é tudo especulação minha.
Estou a ver que a paragem valeu a pena, encheste o porta bagagens de compras, mas aquela coisa chamada mabok tem um aspecto muito esquisito.
Ex.mo Sr. Afonso Loureiro, ao passear na www encontrei este seu site fantástico onde a fotográfica vale mais do que mil palavras.
Parabéns pelas fotos captadas a esta terra maravilhosa onde a natureza e o calor humano são uma mais valia para este país.
Estava a tentar encontrar algumas fotos de Cubal onde encontrei esta sua foto. Meu avó Eduardo Narciso esteve nesse pais nos anos 40 e regressou na fatídica data 1975.
Hoje tento encontrar fotos para recordar esses contos e histórias verídicas que minha família ainda conta.
Será que tem na www algum outro site onde existam mais fotos referentes a esta cidade natal de minhas tias.
Agradeço a atenção prestada,
Atentamente,
Ana Monteiro
Há muitas fotografias na página SanzalAngola.
Basta procurar um pouco e encontram-se fotografias antigas e actuais de quase todo o país.