Quando é que acaba essa tal da independência?
Afonso Loureiro
Depois de tantos sacrifícios que se afiguram ser em vão, os portugueses perguntam quando é que acaba a austeridade, mas o Governo, certamente por confundir austeridade com independência, limita-se a responder à pergunta que, segundo reza a lenda, fizeram a Agostinho Neto em Malange:
– Não se preocupem, a independência acaba daqui a nada. Já não temos moeda, hão-de escrever com sotaque brasileiro, a bandeira agora é azul com estrelas amarelas, quem manda é o FMI e este é o último 1º de Dezembro que gozam.
Já faltou mais para ser arraiada de vez
Como aquecimento, hasteou-se a bandeira de pernas-para-o-ar no 5 de Outubro. Qualquer dia nem se hasteia.
Há muitos anos, a jornalista Vera Lagoa depositava um ramo de flores no monumento aos Restauradores a cada 1º de Dezembro. Comemorava com mais dignidade a Independência e Restauração do que o Estado é capaz. Agora já não há independência para comemorar, pelo que se suprime o feriado e, qualquer dia, vende-se o monumento para pagar os juros.
dizia o DeGaulle, entredentes, quando viu os argelinos todos contentes por ele ter dito que estavam independentes:Vão ter tanta falta da França!!!
que invadiram a frança.
Caro colega, vê-se bem pelos seus comentários, particularmente sobre Angola, que é um jovem que não conheceu o Portugal atrasado dos anos 60 e 70. Não viu os enormes musseques da Lisboa desse tempo, o analfabetismo e a fome, as aldeias com o esgoto a correr em ruas de terra batida, sem distribuição de água e electricidade.
O grande desenvolvimento do País em que tive o orgulho de participar, como engenheiro civil, começou no início dos anos 80 e termina agora com a nação falida, sem dinheiro para pagar as obras que a Europa obrigou a fazer.
Em Angola esse desenvolvimento não vai durar 30 anos, penso que menos de 20, e eu também tenho o privilégio e o orgulho de nele participar.
A grande diferença é que Angola não vai terminar como um País falido, antes pelo contrário, não precisa de esmolas para progredir, é um País rico, para inveja de muitos tugas na miséria mas orgulhosos e cheios de soberba, como alguma nobreza que se desfez das propriedades mas que se continua a apresentar com o brasão e o famoso sangue azul.
O Sr. Luis Melo, ao tentar contradizer um interlocutor, não perceptível (será o autor do blog?) acaba por lhe dar razão, pois compara realidades, para si idênticas(?!), mas distanciadas 40 ou 50 anos. Angola, infelizmente para os angolanos, e para a sua independencia real, é de facto um país rico, sim, mas só em recursos naturais, explorados por estrangeiros. Com baixissimo capital humano, posição vergonhosa no ranking dos indíces de desenvolvimento humano e económico mundiais, com uma população dupla da de Portugal, com um pib de cerca de metade, logo um pib per capita na ordem de um quarto do português, como pode afirmar que Angola é um país rico? Ou mais rico que Portugal, sequer? Nem Portugal está falido, só em mau momento económico, nem Angola é o país rico que se apregoa! Sem dúvida alguma, ricos são os seus dirigentes, em processo de acumulação primitiva do capital, logo voraz e selvagem, confundindo o erário público, com os próprios bolsos. Ainda que sendo um processo histórico compreensível, não significa que mereça a concordância de cidadãos livres e democratas, sobretudo quando não é esse o paradigma em que assenta o nível de vida do povo angolano. De outro modo, ao elogiar tal realidade, mais não faria do que situar-se ao lado dos mercenários, que tal como os governantes de Angola, investem mais no exterior do que no seu próprio país, sendo verdadeiros sanguessugas da economia angolana, a cujos calcanhares, jamais chegaram os colonos portugueses, em 500 anos de ocupação. Por último, afirmo orgulho em ser português e orgulho em me ter feito homem em Angola (Cabinda e Luanda), comungando os dilemas e apreensões dos povos que edificam a nação angolana (em processo de consolidação). Mesmo falidos, haverá quem tenha orgulho nas origens (daí ostentarem o brazão), enquanto outros haverá falidos, não financeiramente, mas de alma, de honra e de orgulho nas suas origens, sejam ou não as mais humildes, vendendo-se por um prato de lentilhas.