Semana Santa, parte II
Afonso Loureiro
Ontem, último dia da campanha eleitoral, foi decretada tolerância de ponto todo o dia, para que a população pudesse assistir aos comícios de encerramento.
Na verdade, julgo que Luanda parou porque o Presidente do MPLA precisava de inaugurar umas coisas na capital e, como para onde ele vai fica tudo cortado ao trânsito, decidiu-se que ninguém trabalhava.
No dia das eleições, Sexta-feira, ninguém trabalha, é feriado. Na Quarta-feira houve tolerância de ponto. Foi mesmo uma semana santa para o trabalho. De tal maneira que até começámos a chamar ao dia do acto eleitoral a “Sexta-feira Santa”.
Mas toda a gente sabe que a véspera da Sexta-feira Santa é a Quinta-feira Santa. Se o dia é santo, porque há-de ele ficar atrás da Sexta e da Quarta?
O Governo, na sua infinita sabedoria, resolveu corrigir a situação. Tolerância de ponto a partir das 12 horas de Quinta-feira, para reflexão!
Esta é a verdadeira Semana Santa do trabalhador!
Na verdade, a medida não é tão descabida como poderia parecer. Com o “feriado” na Quarta-feira e o fim-de-semana prolongado tão próximo, poucos iriam trabalhar na Quinta-feira. E os que fossem, a meio da tarde voltavam para casa. Em vez de se ter de arranjar desculpas para as faltas, mais vale tornar a coisa oficial. Por outro lado, é preferível que os apoiantes dos vários partidos se embebedem nos arredores de Luanda, onde será mais fácil conter os eventuais desacatos provocados por ânimos quentes.
Depois de uma semana tão santa, as bandeiras e pendões, espalhados por todo o lado, devem estar mais que abençoados.
É credível a hipótese de ser necessário mais um dia santo para os retirar e, de caminho, beber mais umas “cucas”, para manter a cuca quente.
Nem todos podem ter Fado, Fátima e Futebol, cada um tem o que merece.
Muitas semanas santas para ti, fora de época ainda sabem melhor.
Semanas e semanas de abraços em atraso.