Tudo corre bem…
Afonso Loureiro
Há mais de doze horas que não temos electricidade. Esta manhã liguei o gerador para manter o frigorífico a trabalhar. Aproveito e ligo o computador à internet. Já tenho as primeiras impressões das eleições. Aqui na rua, pelo menos.
As urnas abriram às 7 horas, antes disso, a partir das 5, votaram todos os funcionários e polícias das assembleias de voto.
Pouco trânsito, poucos gritos, nada de ânimos exaltados.
Ao fundo da rua há uma assembleia de voto, no balcão do BFA. Em frente há um BPC, mas como é banco do Estado, escolheu-se um privado para abrigar a assembleia.
Como estamos isolados do mundo, sem televisão ou rádio, à conta da falta de energia, só posso descrever o que se passa aqui na rua.
Sereno. Tudo sereno.
Há autocarros que trazem os eleitores até à mesa de voto, esperam que todos exerçam o seu direito e partem com votantes satisfeitos.
Carreiras especiais
Os autocarros que vemos no dia das eleições são mais numerosos que os dos dias normais… estranho.
As filas para votar são um pouco desorganizadas, à boa maneira angolana, mas vão funcionando sem incidentes. Formam-se grupos de homens e mulheres, tal como acontece no fim do mês, para levantar a reforma.
Esperando para desenhar a cruz no quadradinho devido
Entretanto soube a razão da queixa do segurança quanto ao preço da cerveja. As latas de Cuca costumam custar 50 Kz, mas a fábrica fechou esta semana, por causa das eleições, e a lei da oferta e procura ditou o aumento para 70 Kz. Se ainda houver alguma, já deve custar mais de 100 Kz!
Já agora, o boletim de voto que os angolanos vão encontrar vai ser parecido com este:
14 partidos, uma cruz
Há um pormenor curioso no boletim. Todas as forças políticas são identificadas com o nome do partido, a sigla e o símbolo. A única excepção é o Movimento Popular para a Libertação de Angola , que vem identificado como MPLA – MPLA – bandeira vermelha e preta com a estrela amarela. MPLA não precisa de tradução, certo?
Vivam os leitores de mp3 com rádio:
em Viana há assembleias de voto onde ainda não se começou a votar porque os boletins ainda não chegaram;
no Largo da Tourada, no Cazequel, idem, porque só há um carro disponível para transportar o material;
numa escola no Prenda, a afluência tem sido tamanha que se especula se os boletins chegarão para todos, e mesmo que cheguem, se haverá tempo para todos votarem hoje;
no Bié há uma assembleia onde se suspendeu a sessão às 10 horas, porque se esgotaram os boletins.
A ideia de repartir as eleições por 2 dias foi abordada ao de leve há uns meses atrás, mas entendeu-se que não seria necessário. Não sei não…