O Museu Arquitectónico
Afonso Loureiro
Luanda, apesar do trabalho incansável das escavadoras que todos os dias fazem cair mais um edifício, continua a ser um verdadeiro museu arquitectónico. O núcleo da cidade só começou verdadeiramente a ser atacado pela febre da torre de vidro depois da guerra terminada. Até lá, três décadas ficaram suspensas, num limbo incómodo.
Antiga União Comercial de Automóveis
A cada esquina vemos, debaixo de uma camada de pó e riscos escuros deixados pelas águas que escorrem pelas fachadas, exemplos do que foi uma cidade da década de 1970. Nem mesmo as cicatrizes das máquinas de ar condicionado retiradas ou as emendas feitas com os materias possíveis conseguem esconder a traça original de alguns edifícios.
Nos Coqueiros
Como, durante anos, a principal preocupação foi garantir um tecto e não cuidar da aparência das fachadas, grande parte dos letreiros que marcavam negócios do tempo colonial foram resistindo. É curioso poder circular em Luanda com as referências de duas épocas. Mesmo que falte uma ou outra, depressa sabemos onde estamos apenas com as memórias fragmentadas dos que deixaram a terra com a independência ou com os que descobriram a cidade agora mesmo.
Ponto de referência
Os kaluanda também sentem que a memória da cidade está a desaparecer demasiado depressa, esmagada pelas torres que simbolizam os dólares que saem das entranhas de Angola, mas que não trazem benefício para os angolanos. As suas vozes começaram a fazer-se ouvir, e parece que já fizeram efeito. Foi aprovada legislação que limita a altura dos edifícios a construir na cidade. Não se sabe é quantos projectos de arranha-céus estão já autorizados. Mas é um passo no sentido certo. Diminuindo o rendimento potencial, há menos incentivos para que se destrua mais um pedaço da cidade. No entanto, sou o primeiro a reconhecê-lo, a maioria dos edifícios está mais que condenada, mesmo que cheios de significado. Só por milagre ainda não se esboroaram.
Negócio desaparecido
Nos dias em que passamos mais tempo no trânsito e Luanda se parece com um Purgatório onde expiamos os pecados de que alguns nos acusam, o único consolo é procurar coisas novas nas fachadas conhecidas. Nunca se sabe quando aparece uma mãe à janela para estender roupa colorida ou reparamos no letreiro sujo que já foi símbolo de prosperidade para alguém.
Na Marginal
Há dias em que dou por mim cheio de vontade de andar pelas ruas a fotografar todos os recantos, nem que seja porque o trânsito me impede de lá voltar tão depressa quanto gostaria para apreciar os pormenores condignamente. Depressa caio em mim. Neste Museu é proibido fotografar…
E já agora, qual é altura limite aprovada para os edificios? Lol
P.S.: Agradeço que me tenha enviado o link do site dakela pessoa. A minha intenção era fazer uma queixa ao administrador mas nao consegui..!
Espero que agora com a sua marca centrada nas fotos, não volte haver copianços 😉
O que refere como Cinema União era a empresa representante dos automóveis Triumph, a União Comercial de Automóveis.
Nesse edifício, além do “stand” havia as oficinas.
Na altura da fotografia perguntei a um segurança do edifício dos Frigoríficos Pólo Norte o que funcionava no União antigamente, disse-me que devia ser um cinema…
Já corrigi a asneira.
Obrigado!
És um bócó oh tuga kem gozou contigo foi mesmo o segurança.Os tugas podem ganhar kumbu mas os angolanos gozam mesmo com estes pulas que vem aqui tirar a fome e com bue importancia.Tunda com eles.Cinema só se for o ke estas a fazer para nos rir.
Caríssimo Dessa Vez,
Como eu ainda sei o que quer dizer Tunda, os seus comentários voltarão a ser moderados.
Caro Afonso Loureiro,
Vim parar ao seu blog, que já conhecia, à procura da localização deste antigo hotel de Luanda e encontrei o seu registo fotográfico. No entanto, o enquadramento não permite a sua localização. Pode ajudar-me, por favor?
Muito obrigado.
O Hotel Atenas fica perto do Largo da Maianga (onde começa a antiga Rua António Barroso), junto do edifício inacabado da actual Avenida Revolução de Outubro, que liga o centro ao aeroporto.