A ponte da Cabala
Afonso Loureiro
A Cabala, local da fronteira líquida no caminho para a Muxima, está a mudar. Uma ponte flutuante, feita de barcaças e pontões metálicos amarrados com correntes substituíu a velha jangada azul. O rito de passagem perdeu-se e resume-se agora a um baque-baque das chapas a vergar sob o peso dos carros entre duas estradas poeirentas.
A nova ponte
Onde a jangada circulava ergue-se o esqueleto da nova ponte, desproporcionada, que se agiganta e faz sombra à Cabala. Mais de uma centena de pilares grossos e dois grandes vãos tapam o rio e a chana a sul. Uma ponte milionária que remeterá a Cabala para a condição de povoação esquecida, um cisco no canto do olho de quem passa na estrada, muitos metros acima dos telhados.
A dimensão da ponte contrasta tanto com o resto que será difícil não imaginar as pontes que se poderiam fazer noutros sítios igualmente necessitados, se o projecto tivesse sido apenas um bocadinho menos ambicioso.
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