Igreja de São Domingos
Afonso Loureiro
Devia fazer parte de todas as visitas a Lisboa uma passagem na Igreja de São Domingos. Por muitas igrejas e catedrais que veja, de estilos e grandiosidades diversas, esta, com as suas paredes sacrificadas pelo fogo, tem uma atmosfera especial, que me deixa caídos os queixos do espírito.
Visito-a amiúde, não por questões religiosas, mas exactamente pela impressão que me causam as paredes e tecto vermelhos e as colunas estaladas pelo calor, quase como se o incêndio de 1959 ainda lavrasse. Talvez a hora a que a costume visitar, o final da tarde, contribua também para essa impressão, à conta da luz amarela do ocaso que entra, coada, pelas janelas do coro e vai varrendo solenemente as esculturas mutiladas, que se contorcem ainda nestas labaredas.
Os altares ao longo da nave já têm novas esculturas de santos, algumas das quais muito más. Junto à porta, do lado esquerdo, está a de Santo António e costuma reunir-se uma verdadeira multidão de viúvas nos bancos mais próximos. É óbvio que o São Domingos foi destronado no próprio templo.
Da Igreja original, datada de meados do séc. XIII, quase nada resta. Séculos de alterações de gostos e um terramoto que a arrasou, juntamente com grande parte da cidade em 1755, transformaram-na num edifício barroco. Da reconstrução dessa época foi reaproveitado o pórtico da capela do Palácio da Ribeira, que se situava no Terreiro do Paço, lugar que o Marquês de Pombal tentou chamar, sem grande sucesso, de Praça do Comércio – ainda hoje é mais fácil perguntar pelo nome antigo.
Pedintes profissionais
Esta igreja é também conhecida pelos seus pedintes profissionais, que exercem o mester cumprindo um horário aprovado pelo sindicato, com pausas para descanso e almoço. Paralelamente a estes, que se limitam a trabalhar no adro, há outros, mais discretos, que tomam nas suas mãos escolher quanto será a esmola, retirando das carteiras dos fiéis em oração as notas mais apetecidas. Estes últimos, vulgares carteiristas, aproveitam-se da atmosfera pacífica da igreja, pelo que todo o cuidado é pouco.
É sem dúvida única esta igreja, mas deve-se ter especial atenção ás carteiras.
Sempre que aqui entro lembro-me sempre de um encontro de jovens que ali tivemos e que terminou com um roubo de uma mala. Os Policias da zona disseram logo que ali nem se pode deixar a mala e olhar para o lado.
engraçado que tambem lhe faço umas visitas de quando em vez. Aquelas colunas e tecto são impressionantes.
Por sorte nunca presenciei nenhum episodio com carteiristas. Se calhar é por ir na hora de almoço, devem estar na tasca a essa hora 😉
Conheço muito bem, fui várias vezes, conhecia os pedintes e sinceramente não aprecio este tipo de arquitectura porque são imensamente escuras e gélidas.
Foi a Igreja onde fui Baptizado. Tenho um carinho muito particular por ela e pela zona. Obrigado por este post.
Carlos
Esta é escura e gélida, como tantas outras suas contemporâneas. Apenas contribui para reforçar a sensação que as paredes vermelhas e as estátuas quebradas transmitem.