Só pode ser sina
Afonso Loureiro
Certa vez, quando trabalhava em Luanda, tive o desprazer de partilhar um gabinete com um sistema de baterias de emergência avariado. A avaria em si não era aborrecida, mas o estridente sinal de aviso a cada dois segundos dava cabo da paciência a qualquer um. Durante quase duas semanas tive as ideias interrompidas por apitos incansáveis, escrevia ao ritmo dos apitos e sonhava com os apitos.
Felizmente, a bateria nova chegou com um atraso invulgar para Angola e foi possível calar o aparelho. Descobri mais tarde que tão rápida entrega se devia ao facto de a nova bateria não era assim tão nova e que o técnico se tinha limitado a tirar uma de outro aparelho instalado num cubículo onde os apitos não incomodariam ninguém. Desconheço se essa tenha sido trocada ou se, até hoje, haja um cubículo com um apito a cada par de segundos.
Agora, passado tanto tempo, em paragens mais familiares, vejo-me quase na mesma situação. Faltam poucas semanas para o Verão, como lá faltavam, e sou novamente alvo de uma tortura chinesa. Desta feita não com os apitos ritmados, mas com a muito mais tradicional gota de água na tola.
Tenho o infortúnio de trabalhar no gabinete imediatamente abaixo da máquina de ar condicionado central, e, escondidos pelo tecto falso, estão os tubos que levam o fresquinho a todos os gabinetes do piso. Como há sempre alguém com o ar condicionado ligado, o tubo da refrigeração está permanentemente gelado e, nos dias um pouco mais húmidos, condensa muita água.
Até aqui tubo bem, não fosse a curva do tubo para a máquina ser o ponto mais baixo de todo o andar. Toda a água que nele se condensa e pinga para o tecto falso e depois vai escorrendo até formar uma gota perfeitinha mesmo por cima da minha cabeça. Já descobri que nos dias mais quentes, ou tomo um banho de chuveiro gota a gota, ou chego a cadeira para o lado, o que não é grande solução, porque a gota acerta no tampo da secretária e salpica para todo o lado, monitor e teclado incluídos. O encarregado da manutenção diz-me que não há volta da dar, que o tubo há-de pingar em qualquer lado e saíu-me a mim a fava.
Mal por mal, irrita menos que o apito em Luanda.
São sons e situações que também mexem imenso comigo…e nisso, segundo o fulano da manutenção não há volta a dar? ou será mais o “deixa-andar”?.
Azar mesmo!
Tenho de admitir que não é preguiça do técnico de manutenção. Corrigir o problema é mesmo difícil.