Gabela
Afonso Loureiro
A muitas horas de Luanda, com duas dezenas de controlos policiais pelo meio, fica a Gabela, uma pequena cidade empoleirada nos montes, de onde se espreita as nuvens por cima. A está arranjada e sinalizada, com valetas fundas para a proteger das chuvas de Verão. Só da Gabela à Quibala ainda tem um troço em terra batida, mas também esse deverá ser asfaltado em breve.
Depois de passar as Cachoeiras de Bimbe e a nova ponte, meia centena de quilómetros pela estrada que serpenteia serra acima fazem-nos embrenhar em matas densas, com pequenas povoações quase isoladas do mundo. O limite da cidade é marcado pelo imponente morro castanho à direita da estrada.
Estação da Gabela
Durante décadas, a Gabela foi conhecida pela produção de café, merecendo até uma linha de comboio para o levar até à costa. Em virtude de tempos conturbados, as plantações de café, que não alimentam o estômago, foram abandonadas ou substituídas por hortas de subsistência.
O cachorro está cansado, por isso vai ao colo
Da linha de caminho-de-ferro, pouco mais resta que o edifício da estação e alguns troços com carris de bitola estreita. Grande parte das instalações de descasque de café foram abandonadas, mas, aos poucos, vão retomando a actividade, tal como acontece com os campos de demonstração. As encostas dos montes estão a ser limpas e os pequenos arbustos de folhas escuras a crescer à sombra das árvores altas tornaram a fazer parte da paisagem
Igreja Matriz
A cidade parou no tempo, com os edifícios das décadas de 1950 e 60 a dominar a arquitectura. Poucos há mais recentes e todos apresentam sinais da idade. Buracos de balas ou outras marcas da guerra são escassos e o único edifício que se pode dizer que tenha sofrido verdadeiramente com a guerra é o hotel, que foi transformado em quartel e esventrado. Quando foi desocupado, apenas as paredes e algumas caixilharias se encontravam no sítio.
Cinema
O cinema, com bilhetes de balcão, camarote e plateia, há muito que deixou de passar fitas. Resiste a fachada e os globos de vidro das lâmpadas, tudo o resto existe na memória dos filhos da Gabela.
Mosaico do salão de chá
Apenas a Igreja Matriz, pintada de novo, e o jardim central, fronteiro ao edifício da Administração Municipal, estão limpos e arranjados. O jardim mantém a traça colonial e conta com duas estátuas novas, uma delas o busto do primeiro Presidente da República.
Oficina automóvel
A cidade está cheia de vida, com um movimento frenético de motorizadas entre os mercados dos principais cruzamentos. Os preços das corridas variam entre os 100 e 200 kwanzas, o que faz muita gente ficar no centro quando as compras são de baixo valor.
Esplanada Royal
No entanto, apesar de todo este bulício, tirando quem vende peças de motorizadas ou fotografias, as lojas estão vazias. A economia assenta sobretudo na venda de produtos agrícolas da região. Alguns cafés mantém as portas abertas à custa da venda de cerveja angolana e vinho português. O salão de chá do jardim central está fechado, por falta de clientes.
Piscinas abandonadas
As piscinas municipais, situadas ao lado do rio que atravessa a cidade num túnel, estão secas há décadas, como as de N’Dalatando. O seu edifício principal serve agora para segurar um dos ecrãs gigantes distribuídos pelas províncias por altura do CAN. À noite, dezenas de jovens sentam-se no terreiro em frente e assistem às novelas brasileiras quase em silêncio, não vão perder um pedaço.
Lago do jardim central
Durante a noite há muitas luzes que nunca se apagam na cidade, mas explicaram-me que não é esquecimento, é a falta de interruptores de substituição e electricidade de borla que leva ao recurso a ligações directas. De qualquer das formas, a energia eléctrica é cortada religiosamente às seis da manhã. Mas, à parte deste horário nocturno, o seu fornecimento tem estado estável. Novos circuitos de distribuição, quadros e contadores começam a ser montados no centro da cidade, fazendo prever uma melhoria do serviço para breve.
Penso que a palavra Gabela deve ser indigena.
Na altura do café em flor eram paisagens lindissimas.
Era uma visão tão tropical que nunca deveria ter um nome português.
Havia uns gabelenses luso-descendentes muito independentistas, era bom que hoje não sejam retornados.
Ficava mal.
Há algumas teorias acerca da origem do nome Gabela. A que mais crédito me merece é a de que deriva de N’Gabela, o nome do grande morro à entrada da povoação.
Pois é,se esses luso-descendentes tivessem feito a independencia, ainda tu, retornado de Angola lá viverias,
feliz e contente da vida.
Ficava mal,nao ficava!!!!
Assim,é só saudade e …….
Carlos N.T.,
Será que os gabelenses independentistas luso descendentes se equivocaram?
É que eu, português, nunca me equivoquei.
E, sei que muitos luso descendentes tambem nunca se equivocaram, sabiam que a hora não era aquela.
Mas havia alguns que nunca imaginaram que havia tanto gente a querer fazer aquela guerra e a querer vender tantas armas.
É esses luso descendentes que faço votos que não sejam retornados como eu, e que não se tenham limitado à lembrança e à saudade.
“É que eu, português, nunca me equivoquei”, diz o anónimo de forma muita portuguesa. Já se percebeu que é dos que raramente têm dúvidas e nunca se enganam. Ainda bem, pois assim vivem felizes! Sou angolano-luso, nasci na Gabela, fui criado em Luanda mas regressei sempre à minha terra. Hoje vivo em Luanda e continuo a regressar à cidade onde nasci. Sou dos que têm dúvidas e se enganam. Por isso, só sou feliz às vezes.
Acima de tudo, ter dúvidas desperta a curiosidade e faz-nos perguntar sobre o que não sabemos.
Mas há também quem não tenha dúvidas acerca de determinados assuntos e nem por isso deixe de se amargurar…
Parabéns pelo seu Aerograma. Pelos textos e pelas fotos. Uns e outras captam bem a alma deste País. Nos seus defeitos e nas suas virtudes que, apesar de tudo, são muitas. Fiquei fã! Abraço
Não seria sério da minha parte escrever apenas sobre uma faceta de Angola. As virtudes da terra são mais que muitas – são elas que deixam a marca funda na alma. Os defeitos existem como contraponto…
VIVI MUIOS ANOS NA GABELA, GOSTO IMENSO DESSA TERRA. UM DIA VOLTAREI PARA A ABRAÇAR E REVER ALGUNS AMIGOS QUE JULGO AINDA SEREM VIVOS.
Procuro minha madrinha Emília Grade. Viveu em Luanda Angola, Bº Miramar, Rua António Enes, Proximo a Pedreira. Tinha um vizinho que fabricava broas, ali quase junto ao Sr Evaristo. O marido chamou se Raúl Grade, foi funcionario do Porto e Caminhos de Ferro, falecido em 73 ou 74. Agradeço quem souber de algo que mande mensagem para: aldalouro@hotmail.com
Vejo a foto das piscinas,e recordo tantos monentos passados
nessas piscinas. Nas minhas borlas era aí o meu refúgio. Eu estudava no ciclo preparatório mesmo em frente a essas piscinas. Da paisagem antes da guerra, o que me lembro é da relva, e das árvores que faziam uma sombra sobre a relva divinal. Quando chovia aquele cheio a terra molhada, o barulho da água a correr no rio, e as rãs a saltarem de pedra em pedra, eu, lá estava sempre admirando tudo isto. O que passava indiferente a tanta gente, a mim dizia-me tanto. Fica a recordação, vivida em anos inocentes na minha idade, e oprimidos numa ditadura em que; o que eu mais dava valor, não tinha importância nenhuma, e hoje passado bastantes anos, chego a conclusão que foram monentos bem vividos, e nunca tempo desperdiçado. A ditadura foi-se e as piscinas” também” mas essas recordações ninguém me tira. Obrigado mais uma vez, pela foto e por deixar uma filha da Gabela expressar-se em palavras que possívelmente quem as ler, não ficará indiferente.
É impossível ficar indiferente. A minha visita à Gabela foi acompanhada de muitas memórias alheias, que apenas pude intuir pelas paredes das casas velhas, pelos antigos letreiros, pelas ruínas da piscina…
Para os interessados, um excelente livro sobre a Ponte Aérea de 1975, com um capítulo sobre a Gabela, acabado de sair:
“SOS Angola – Os dias da Ponte Aérea”
http://www.facebook.com/pages/SOS-Angola-Os-Dias-da-Ponte-A%C3%A9rea/189205341148393
Eu vivi 14 anos nos morros do Amboim, nas fazendas de café de Mário da Cunha. No congulo nas escótas das grandes pedras da CADA. Para mim, aquele era o paraíso da Gabela. Ficava-mos perto das salinas e das caxoeiras d Binga. Sou refugiado e não retornado, pois penso que o retornado é todo aquele que regressa ao seu país de livre vontada, o que não foi o meu caso. Tive de fugir aos armamentos russos e tropa cubana que davam apoio ao movimento MPLA. Os MPLA’s não estavam interessados em acabar com a opressão que, falçamente, diziam existir. Não, repressão existe agora.
Sou refugiado, pois o meu corppo veio mas o meu coração ficou lá! Amo Angola, sinto-me filho daquela terra e irmão de dos negros do Cuanza Sul.
sai da gabela em 75,retornei em novembro de 91,vivi na gabela,de 94 a 98,hoje vou poucas vezes,se alguem quiser vir passar uns dias agradaveis ligue 00244923603596,um abraço
Eu nasci na Gabela aceitei a cidade como é, sem perguntas ou mistérios, que é ou foi uma cidade importante é uma realidade.
Sou Português e até ler o livro SOS Angola desconhecia a Gabela. Em 75 pouco ou nada ligava a quem chegava de Angola … Foi preciso ter ido a Luanda à poucos anos para sentir África… e hoje entendo o porquê de tanta saudade de quem deixou tudo para trás…África não tem comparação…é outro mundo… é outra forma de viver.Um abraço .
África deixa marcas profundas a todos os que a procuram descobrir.
Caro amigo Afonso Loureiro,é sempre com muito agrado que vejo os seus aerogramas,hoje foi a Gabela já tinha saudades!terra linda que sempre adorei e adoro,boa gente tanto os naturais assim como os Portugueses que lá viviam,resta-me as saudades.Um abraço Costa.
gabela tenho saudade de ti minha terra
essa e uma cidade favorita para mim tanto e que e a minha terre onde fui nascido tenho saudades de verdade preciso dar uma volta na terra ver os meus tios avos irmaos . mas os estudos trabalhos me ipedem mas um dia eu serei livre disso tudo e vou pra la
os melhores anos da minha vida foram na gabela, mesmo contra a sua vontade mas pelos filhos o meu pai veio para portugal sempre amou angola em especial a gabela, nunca a esqueceu. ja voltei a gabela precisava voltar, não há palavras que expliquem a emoção. o meu marido passou ontem, dia 12-06-2014 na gabela a caminho do huambo, foi comprar café, falou comigo da gabela, sabe que adoro isso ai, é como se la estivesse. tenho a certeza que vou lá estar em breve. quem viveu ou vive em africa/angola jamais a esquecerá, é realmente outra realidade
A Gabela foi um dos pontos mais importante do mundo, sim porque o café que era produzido aqui era um dos melhores,
Agora é quase esquecida se quisermos lembrar da GABELA é só na história”
A Gabela foi um dos pontos mais importante do mundo, sim porque o café que era produzido aqui era um dos melhores,
Agora é quase esquecida se quisermos lembrar da GABELA é só na história”..